sábado, abril 9

“Eu vou lá...

...com ele, tu não podes e por mim é na boa, nem tenho aulas nem nada!” Fui, apreensiva e com um aperto no coração, mas sempre com a confiança estampada no rosto, ou pelo menos assim o era aparentemente. Do alto dos meus 22 anos, senti que era imprescindível a minha presença ali. “Sim, entro contigo! Vou até onde me deixarem entrar! :)” O sorriso doía ao sair, era forçado, era baço, não tinha brilho algum naquele dia, naquelas semanas, que pertenceram às piores da minha vida. Momentos de espera, preenchidos com as nossas conversas sobre banalidades, alternadas involuntariamente com as perspectivas futuras de toda aquela situação, que naquela hora nos pareciam as piores.

Minutos que pareciam dias, parecia que te ia abandonar, era esse o sentimento, mas jamais o faria, em momento algum deixei de acreditar, deixei de estar ao teu lado e de te apoiar.
Finalmente chamaram o teu nome. A bata imaculada e a face serena, fazia com que fosse desconfortável e penoso estar ali, mas tinha que ser.
Entrei a medo, muito medo de tudo o que iria ouvir ali dentro. Sentaste-te em frente de toda aquela serenidade e eu fiquei de pé atrás de ti, como tua protectora, tal como te senti sempre em toda a minha vida. O nó no estômago não me permitiu sentar.

Ouvimos os dois, as dúvidas pairavam no ar mas as perguntas não saíam, o pânico invadiu-me naquele momento, ao olhar a tua mão e ver que ela tremia. Pela primeira vez na vida eu vi-te com receio, eu vi-te com medo do que vinha por aí. Não consegui tocar-te, muito menos confortar-te naquela hora, com medo de que finalmente percebesses o meu medo, apenas fiquei ali, e sei que fui importante, mas apenas fiquei ali, atrás de ti, estacada com o impacto das palavras.
Os momentos que se seguiram pareciam anos. Saímos os dois em silêncio, como se a sentença estivesse traçada, ambos sabíamos que se falássemos iríamos desabar, somos iguais, ambos sabemos e entendemos o porquê daquele silêncio. Sentámo-nos à espera de conseguir acordar daquele pesadelo.
Deixei-te, tinha que ser assim, deixei-te com a promessa de voltar umas horas mais tarde.

Ao dobrar a esquina daquele corredor desabei. As forças foram para um lugar que não estava ao meu alcance, e sei que aconteceu o mesmo contigo. Naquele momento senti-me a perder tudo, a ficar vazia, como se em segundos me tivessem arrancado tudo aquilo que eu fui, tudo aquilo que eu vivi.

Entrei no carro e tive medo de o conduzir, tal era o esforço que sentia. As horas seguintes e os dias seguintes foram assim, preenchidos de um vazio doloroso. Só voltei a respirar de novo quando te olhei e te vi sorrir, sorriso sincero de quem, com um olhar apenas, me consegue dizer: “Como é bom poder ver-te de novo filha! A primeira etapa já passou!”

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