terça-feira, abril 6

Codex 632 #2


«“Do real apenas vemos as sombras, nunca o próprio real.” Virou o rosto na direcção de Tomás. “Entendeu?”
Tomás observava pensativamente a espuma branca de uma onda a ser depositada na areia branca da praia. Sem tirar os olhos daquela baba borbulhante, balançou afirmativamente com a cabeça.
“Sim”
Saraiva mirou por instantes as unhas dos dedos e retomou o seu raciocínio.
“Daí que os desconstrucionistas franceses digam que não há nada fora do texto. Se o real é inatingível devido aos limites da nossa percepção, isso significa que somos nós que construímos a nossa imagem do real. Essa imagem não emana exclusivamente do real em si, mas também dos nossos peculiares mecanismos cognitivos.”
“É isso que defende Foucault?”
“Michel Foucault foi fortemente influenciado por esta descoberta, sim”, confirmou, voltando a acentuar o nome próprio, Michel, numa subtil insistência na necessidade de, quando se menciona um filósofo do seu agrado, citar sempre o nome completo. “Ele apercebeu-se de que não existe uma verdade, mas várias verdades.”»


by José Rodrigues dos Santos in "O Codex 632"

1 comentário:

Shell disse...

Bonita passagem :) *