«“Lamento muito…”
Tomás abriu a boca e fechou-a, sem emitir um som, um único som que fosse. Horrorizado, paralisado, incapaz de pronunciar uma palavra, tão atordoado que não sentia ainda a dor que lhe embaciava já o olhar, as pernas a fraquejarem, o coração saltitando desordenadamente, (…) uma noticia brutal, que o pesadelo que mais receava se tornara real, que a vida não passava mesmo de um frágil suspiro, um fugaz instante de luz na eterna treva do tempo, que o seu pequeno mundo ficara insuportavelmente pobre, que se perdera para sempre aquele ar puro e honesto que tanto o encantava (…) E naquele momento de perplexidade, naquela suprema fracção de agonia entre o choque da noticia e a explosão do sofrimento, espantou-se por não ver brotar dentro de si uma justa revolta pela cruel traição do destino, mas antes, e apenas, uma medonha mágoa, uma tremenda saudade pela sua menina perdida (…).
“Sonhos cor-de-rosa, minha querida.”»
by José Rodrigues dos Santos in "O Codex 632"
A vida é isso mesmo “um frágil suspiro”, algo que não nos é permitido controlar, hoje temos tudo, somos as melhores pessoas deste mundo, com amigos e alguém que nos apoia, como amanhã não somos nada, apenas um amontoado insignificante de músculos e ossos cobertos por uma pele que de pouco nos protege tendo em conta as adversidades da vida…
Hoje somos amados, sentimo-nos protegidos como se um ser superior nos acarinhasse e nos protegesse de tudo o que existe de adverso, colocando no nosso caminho “anjos” que nos protegem, amanhã estamos desamparados numa qualquer ruela da vida, num trilho que não conhecíamos e que desejávamos nunca vir a conhecer…
Hoje somos detentores de um conhecimento absoluto, como se todas as respostas fossem certas e tudo aquilo em que acreditamos fosse uma verdade impenetrável, amanhã não passamos de meras chacotas de alguém que finalmente descobriu a verdade em toda a capa supostamente existente da nossa vida...
Hoje somos tudo…
…e amanhã já não somos nada!
Então e amanhã que dia será?