quarta-feira, agosto 19

FP


















“Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.

Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.”

by Fernando Pessoa




Será que sei quantas almas tenho? Dou por mim a querer ter mais do que uma... Queria poder ver-me do lado de fora como quando olho outra pessoa, perceber o que sou e como sou visto de fora… Saber a marca que deixo nas outras pessoas…




“Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido,
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo.
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.”
by Álvaro de Campos



Tudo isto porque todos nós temos uma máscara, na realidade tudo o que mostramos não deve passar disso, escondem-se os problemas no “bolso” e a máscara continua lá, intacta e imóvel Por vezes deixa transparecer o que vai na alma, mas jamais mostra o que está por detrás na sua totalidade…

Não cai…

Não sai…

Quando pensamos em finalmente retirá-la, ela não sai…está pegada à cara…






Mas a vida não pára, não espera que façamos o que temos que fazer, não nos mostra quem somos vistos de fora, não nos deixa sair do corpo para perceber como somos… A vida não nos lembra de quando é que temos de tirar a máscara para que não seja tarde demais, não nos esvazia os “bolsos”, não pára…
Por isso o prazer de não cumprir um dever… de ser rebelde, e cometer pequenas loucuras de vez em quando… :D

2 comentários:

Lili_Cruz disse...

Acredita minha linda que se podesses ver-te de fora ias ver a pessoa linda que és! Acredita que deixas a tua marquinha naqueles que te rodeiam! Em mim deixaste e sei que nao sou única! =)
Quanto ao ser rebelde e cometer pequenas loucuras estou totalmente de acordo contigo! há que aproveitar! ;)

Beijinho enorme!

Celinha 007 =) disse...

Era giro se pudessemos ver plos olhos dos outros as qualidades e os defeitos que nos inundam. Era engraçado usarmos isso como truques para sermos um pouco melhores (ou um pouco piores!). Só que é aí que está a nossa função. É por não sabermos tudo e tentarmos descobrir que reside a necessidade de vivermos... para explorarmos, enganarmo-nos, levantarmo-nos!

Seria tudo mais fácil mas também seria tudo mais frustrante.

Agora essa máscara defensiva que se cria dia após dia e que fica forte, intransigente e definida nem sempre é nossa aliada. Por isso é que lhe vamos criando umas fendas na barreira que sustenta.

Gosti minha menina* Sem máscara! Só por seres quem és! :D *