“Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.”
by Fernando Pessoa
Será que sei quantas almas tenho? Dou por mim a querer ter mais do que uma... Queria poder ver-me do lado de fora como quando olho outra pessoa, perceber o que sou e como sou visto de fora… Saber a marca que deixo nas outras pessoas…
“Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido,
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo.
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.”
by Álvaro de Campos
Tudo isto porque todos nós temos uma máscara, na realidade tudo o que mostramos não deve passar disso, escondem-se os problemas no “bolso” e a máscara continua lá, intacta e imóvel Por vezes deixa transparecer o que vai na alma, mas jamais mostra o que está por detrás na sua totalidade…
Não cai…
Não sai…
Quando pensamos em finalmente retirá-la, ela não sai…está pegada à cara…
Mas a vida não pára, não espera que façamos o que temos que fazer, não nos mostra quem somos vistos de fora, não nos deixa sair do corpo para perceber como somos… A vida não nos lembra de quando é que temos de tirar a máscara para que não seja tarde demais, não nos esvazia os “bolsos”, não pára…
Por isso o prazer de não cumprir um dever… de ser rebelde, e cometer pequenas loucuras de vez em quando… :D
2 comentários:
Acredita minha linda que se podesses ver-te de fora ias ver a pessoa linda que és! Acredita que deixas a tua marquinha naqueles que te rodeiam! Em mim deixaste e sei que nao sou única! =)
Quanto ao ser rebelde e cometer pequenas loucuras estou totalmente de acordo contigo! há que aproveitar! ;)
Beijinho enorme!
Era giro se pudessemos ver plos olhos dos outros as qualidades e os defeitos que nos inundam. Era engraçado usarmos isso como truques para sermos um pouco melhores (ou um pouco piores!). Só que é aí que está a nossa função. É por não sabermos tudo e tentarmos descobrir que reside a necessidade de vivermos... para explorarmos, enganarmo-nos, levantarmo-nos!
Seria tudo mais fácil mas também seria tudo mais frustrante.
Agora essa máscara defensiva que se cria dia após dia e que fica forte, intransigente e definida nem sempre é nossa aliada. Por isso é que lhe vamos criando umas fendas na barreira que sustenta.
Gosti minha menina* Sem máscara! Só por seres quem és! :D *
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